Macroalgas marrons são enormes acumuladores de biomassa

Várias indústrias estão escondidas nos impressionantes potenciais das algas marrons

Não importa onde você esteja, se você gosta de ir à praia, com certeza já notou a presença das macroalgas marinhas. Ao contrário de suas primas microscópicas, as macroalgas exibem verdadeiras frondes que lembram tecidos delicados e translúcidos que ondulam com as marés e se destacam por suas diversas tonalidades de marrom, verde e vermelho. Eles podem até exibir iridescência, tornando-as organismos curiosamente belos. No entanto, devido à sua aparência viscosa ou muitas vezes áspera e texturizada, podem evocar vários sentimentos em quem os toca. Sua aparência exótica esconde funções extremamente importantes tanto para a humanidade quanto para os ecossistemas costeiros

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Nereocystis luetkeana, a alga-touro. Fonte: Puget Sound Restoration

As macroalgas marinhas criam com eficácia algo bastante raro na coluna de água: o substrato. Pode parecer estranho, mas muitos organismos aquáticos têm fases de vida em que não podem nadar ativamente ou simplesmente precisam descansar. Eles dependem apenas de sua capacidade de se agarrar a algo, como uma alga. Como resultado, as superfícies dos caules de macroalgas abrigam comunidades coloniais altamente diversas, compostas por várias espécies de vírus, bactérias, vermes, moluscos, crustáceos, estrelas do mar, larvas de peixes e até mamíferos. Além disso, elas secretam carboidratos ricos, nutrientes e oxigênio que sustentam todas essas formas de vida. Assim, se você pretende não só apreciar o esplendor do pôr-do-sol no quebra-mar, mas também mergulhar ou mesmo pescar para se alimentar, é altamente recomendável procurar praias com abundância de macroalgas. Existe até uma teoria que sugere que uma das rotas pelas quais a humanidade entrou no continente americano há milhares de anos foi seguindo a presença de algas ao longo da costa, a “Kelp Highway”1.

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As setas vermelhas sólidas indicam a rota costeira sugerida como “kelp-highway” feita por marinheiros da Ásia. As setas azuis indicam a antiga teoria da ponte terrestre “Clovis-first”. Mapa da National Geographic
Quando o Sargassum se acumula nas praias do Caribe e do Norte do Brasil, ele sufoca os ninhos de tartarugas e manguezais, atrapalha a pesca e, ao apodrecer na areia, prejudica o turismo local.

Kelps são as maiores e mais impressionantes macroalgas. Frequentemente em tons de marrom e dourado, possuem indivíduos que podem atingir até 60 metros de comprimento 2, tornando-os os organismos mais alongados do ambiente marinho. Coincidentemente ou não, gigantes marinhos e gigantes terrestres, kelps e sequóias, são facilmente encontrados na costa da Califórnia. Análogas às suas contrapartes terrestres, as algas formam florestas densas, mas estas se assemelham a florestas tropicais devido à sua rica complexidade e biodiversidade.

A biomassa significativa de algas representa uma quantidade substancial de dióxido de carbono que eles removem do ar. Através da fotossíntese, os kelps convertem o principal motor da mudança climática antropogênica não apenas em vitaminas e antioxidantes valiosos, mas também em moléculas longas e recalcitrantes que são exaladas a uma taxa comparável ao seu próprio peso a cada dia, terminando imobilizadas no fundo do mar por centenas de anos. Os Kelps são aliados de longa data da humanidade, mas não estamos fazendo valer suas contribuições.

Infelizmente, nossa produção de dióxido de carbono supera em muito a capacidade de todas as florestas, não apenas as submersas, de absorvê-lo. Isso causou várias mudanças climáticas globais que agora são fatos inegáveis, especialmente evidentes no declínio significativo de grandes populações de algas na costa oeste da América do Norte. Os cientistas estão trabalhando em escala global para tentar reverter esse cenário. Quando se trata de perda de algas, o problema é exponencialmente maior, pois estão entre as melhores ferramentas que temos para combater esse fenômeno.

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O Grande Cinturão Atlântico de Sargassum

Enquanto o problema no Pacífico é de declínio, no Atlântico ocorre um cenário oposto. Desde 2011, um cinturão de mais de 8.000 quilômetros de Sargassum vem crescendo de forma alarmante a cada ano. Apesar de não ser uma alga, a macroalga dessa espécie pode se multiplicar rapidamente em mar aberto, chegando a milhares de toneladas. Ao se acumularem nas praias do Caribe e do Norte do Brasil, sufocam ninhos de tartarugas e manguezais, atrapalham a pesca e, ao apodrecerem na areia, prejudicam o turismo local. A causa exata desse fenômeno ainda não é certa, mas suspeita-se que descargas ribeirinhas de fertilizantes de agroindústrias na foz dos rios Mississippi, Amazonas e Níger possam estimular esse crescimento excessivo. Isso também pode estar intimamente relacionado às mudanças climáticas e à superexploração da terra 3.

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Praia com Sargassum em 2021 na Praia de São Pedro, Carutapera, MA. Fonte: Própria (Cícero Alves)

O IBPBio sabe que as algas marrons são muito importantes para o nosso litoral e já planeja um levantamento dos principais pontos de ocorrência dessas espécies no litoral maranhense, a fim de mapear o potencial de preservação e também de geração de renda via maricultura desses organismos fantásticos. Os mercados de fucoidan/alginate, pigmentos e fertilizantes vegetais naturais ainda são incipientes no Brasil, mas podem ser um dos principais produtos dessa biomassa e contribuir para a conservação da biodiversidade da costa brasileira. Também temos parcerias com diversos grupos de pesquisa nacionais e internacionais (UWM, UFSC, USP, FURG) para desenvolver projetos que visam entender como e quando a alga Sargassum vai reaparecer em nosso litoral e o que fazer com essa enorme biomassa.

Se você quiser saber mais sobre este e outros projetos do IBPBio relacionados ao mar, entre em contato conosco.

References:

1.  Erlandson, J. M. et al. The Kelp Highway Hypothesis: Marine Ecology, the Coastal Migration Theory, and the Peopling of the Americas. J. Isl. Coast. Archaeol. 2, 161–174 (2007).

2.  Abbott, I. A. & Hollenberg, G. J. Marine Algae of California. (Stanford University Press, 1976).

3.  Wang, M. et al. The great Atlantic Sargassum belt. Science 364, (2019).

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Cicero Alves Lima

Cicero Alves Lima

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